quinta-feira, 10 de março de 2011

Noite


Eu não conhecia aquela mulher que passou, mesmo depois de já ter conversado com ela, ido em sua casa e tê-la visto antes tantas e tantas vezes. Não, aquela eu não conhecia ainda, sei que já havia beijado-a em uma noite qualquer em uma festa qualquer em um lugar qualquer em um lugar comum, mas aquela daquela noite eu nunca nem sequer tinha visto. Era uma espécie de macacão preto que cobria a noite de sua pele, é isso ela se veste de noite toda vez que fazemos amor, uma noite faminta que devora... só devora... e devora mais ainda. Mas... com a daquela noite... tudo era sentidos: Um olfato para o perfume da primavera de uma única Flor. Uma audição para sussurros... ah!... ah!... ah!... parecem anjos... Um paladar carnívoro que lambe que morde... que come. E uma visão... uma visão para o noturno escuro de nós dois e por fim... o tato para todo o resto... cabelos mãos pés bunda e que todos os sentidos sejam para a noite. Assim como fomos. Fomos para a noite a própria noite, uma noite que demorou pra morrer e que tinha um cenário no mínimo excêntrico, um ônibus velho transformando a rua em beco, um bêbado caído uma esposa gritando, mas mesmo assim uma mão que tinha vida e teria mesmo que não tivesse um corpo para te guiar, aliás, quatro mãos, as quatro mãos da noite, sôfregas em busca de um tesouro que só o outro possuía, e um tesouro que à primeira (im)pressão não era suficiente, frustrante eu diria, mas que com o passar do tempo teve suas relíquias hipervalorizadas, mas aquela noite com aquela mulher(noite) acabou antes de terminar... foram só sentidos, brandos, sem ápice. O ápice demorou. A de hoje, mesmo sendo a mesma, não é mais a mesma, mas continua a mesma(noite). As noites depois daquela foram só ápices, sentidos por todos os sentidos, todas as noites mesmo quando não é noite foram noites, todas com o pigmento daquela lactose eterna que caracteriza os ápices(gozos). A noite é o grito e o gemido se fundindo em forma de dois, em forma de nós dois.

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