sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Carta à ninguem.

“Eu consigo, tudo de ruim eu consigo. Eu não tô culpando ninguém. Pelo amor de deus, Cala a boca! Eu só não tô raciocinando direito,” meu coração ta palpitando, minha cabeça repentinamente dói, de vez em quando dar aquela dorzinha nas laterais acima das orelhas, me vem a cabeça uma vontade absurdamente incontrolável de... sei lá... de matar... ou de... morrer, de socar a parede que até não existam mais dedos ou paredes pra socar, gritar até minha garganta se desintegrar em sangue... eu sei que não sou uma pessoa normal, eu nunca fui uma pessoa normal, e talvez o que mais me aflija seja justamente o fato de eu ter consciência disso, louco que é louco não sabe que é louco, mas eu sei que sou louco, sendo assim não sou apenas louco, sou um louco que sabe que é louco, e isso é muito pior, é assustador saber, ou achar que sabe, como sua mente estar funcionando, saber o que estar acontecendo com você, saber que aquela sua maneira de se comportar tem uma relação com algo que aconteceu antes, saber que um psicólogo ou um terapeuta poderia te ajudar, mas ao mesmo tempo não querer ser ajudado, pois é, eu sei qual é, ou quais são os meus problemas, sei onde ou como encontrar a cura, mas eu não quero, eu prefiro continuar esse monstro que eu sou, esse que agora estar digitando esse merda desse texto com tanta força que chega quase a quebrar o teclado, a propósito, por falar nesse texto, se interessa a alguém saber o porque dele, não é por nada em específico, eu só queria um refúgio, falar com alguém que não fosse gente, não que quem esteja lendo não seja gente, mas quando se escreve, você não sabe quem tá lendo, aliás, não sabe sequer se aquilo vai ser lido ou não, não se conhece o seu, como dizem os críticos, “interlocutor”, então era justamente com esse “ninguém” que eu queria conversar, um Zé Ninguém conversando com um “ninguém”, algo que combina bastante, e por falar em “ninguém” lembrei agora daquele famoso auto de Gil Vicente que fala do embate de “Ninguém” com “Todo Mundo”, em que se conclui que “Todo Mundo” só pensa em dinheiro e “Ninguém” pensa em ajudar, foi genial o português nessa obra, mas eu fico imaginando se fosse Freud que tivesse escrito tal peça, seria o mesmo embate de ninguém com todo mundo, mas as metas seriam outras: felicidade e sofrimento, e a conclusão seria que “Todo Mundo” quer felicidade e “Ninguém” quer sofrimento, mesmo sabendo que no mundo em que vivemos ocorre justamente o contrário “Ninguém” tem felicidade e “Todo Mundo” sofrimento. puta que pariu! um grande amigo já havia me dito que ler Freud é maravilhoso, mas que quando a gente tá fudido... é foda você saber que por mais que você tente o “não-sofrer” o sofrimento é inevitável, se você tá bem aquilo que você tá lendo se torna algo distante, algo meramente científico, parte apenas de seu trabalho de sua pesquisa, mas, se você lê o “Mal-estar na Civilização” tando sem dinheiro, ou passando por qualquer outro grande problema, volto a dizer: é foda! olha aí, tá vendo?! funcionou conversar com “ninguém”, já relaxei, dez minutos atrás, quando comecei a escrever esse texto, eu tava, você lembra, querendo dar murro nas paredes, e agora, até a respiração já não tá mais tão ofegante, o sangue tá correndo mais tranquilo nas veias, poderia até dizer que estou... é... estou bem. valeu pela atenção Seu Ninguém, ou Dona Ninguém, se é que algum de vocês existem, espero contar com vocês, quando minhas crises de doido voltarem. Fuuuuuuuuuuuui.

Um comentário:

  1. Tbm sei exatamente quais são os meus problemas e confesso nunca ter pensado no quanto isso é assustador.
    rsrsrs...

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