quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Os Sonolentos


A tropa avançara mais do que devia. Homens, mulheres e crianças adormeciam no front, eu corria com uma metralhadora na mão, mas não conseguia atirar em ninguém, me perdi da minha tropa, acho que estava meio míope e a tropa que outrora avançava agora estava calada, ou era eu que estava surdo?, não sei bem, percebo que minha metralhadora volta a funcionar e miro em uma criança que dorme, a mulher ao seu lado sem um dos braços chora, pede água, vira pra o lado mais confortável e dorme e sonha com os mais belos anjos do céu rodeados de fogo frio por todos os lados, a criança que tenho a arma mirada em seu peito, também dorme, minha audição volta, ergo a cabeça e quando retorno o olhar pra ele percebo uma bala atravessar sua cabeça, procuro o assassino, não há assassino em parte alguma, apenas deuses e deusas camuflados, cantando os mais belos cânticos de Davi, minhas mãos ficam dormentes e meus dentes começam a cair e eu agora sou apenas uma máquina feita pra andar e ouvir, saio vagando rumo a colina distante e finalmente caio, ao meu lado a grama verde e rala dos campos floridos de uma primavera européia, sob minha cabeça um céu azul de um domingo qualquer, agora essa chuvinha fina, percebo que estou ficando louco, uma tempestade cai sobre mim e por mais que eu olhe não vejo a fonte, não existe mais nuvens no céu, quando estou quase adormecendo me tremendo de frio uma pistola que parece de brinquedo cai junto com a chuva em meu peito, aquele é agora o brinquedo que nunca tive, me sinto com 4 ou 5 anos de idade, e quantos anos eu tenho mesmo?, já não sei! Engatilho a arma de brinquedo atiro no meu pé esquerdo... não era de brinquedo... choro incontidamente em uma súplica desesperada por um colo de mão, e finalmente quando me canso, passo a ser o velejador do barco em que todos já me esperam e finalmente durmo...

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